Farta de conviver com pessoas zens praticantes de yoga, resolvi me render.
Dizem que renova o espírito e salva a alma, né? Péssima ideia. Definitivamente.
Cheguei na sala de aula e a professora nem olhou na minha cara, porque tava
preocupada em manter a energia da sala equilibrada. Terapia de cor, terapia de
incenso, terapia de lenço colorido. Eu sou meio cética nesse ponto. Por que o
roxo e o amarelo vão me dar alegria e me tornar mais focada? Muito suspeito.
Não dá não. Das minhas crenças energéticas, já me bastam as astrológicas. Mas
fingi que eu era uma pessoa altamente espiritualizada e sentei.
A professora mandou
todo mundo fazer a posição guerreiro III e eu comecei a ter um ataque de riso.
Guerreiro III? Automaticamente me lembrei da música do Jamil, praieiro,
guerreiro, solteeeeiro! Putz.. Aquilo não ia prestar. Depois, a rainha zen da sala de aula perguntou se eu tinha
boa flexibilidade e mandou eu fazer uma Krisna wakawaka. Enquanto isso, o resto
da turma ficava se exibindo em posição de rosquinha de padaria. Não havia mãos
e pés e braços. Tudo era uma coisa só. Medo. Muito medo.
Fui fazer a tal da Hare Krisna, só que me empolguei com o
pé e derrubei todas as velas no chão, além de rasgar um pedaço da cortina de
seda. Eu era um fracasso. Tô mais pra tomar remédio de hiperatividade e
ansiedade nervosa do que pra trabalhar no lado zen. Talvez remédio seja mais
eficaz.
O terceiro exercício era bem “simples”, a gente tinha que
fechar os olhos, deitar no colchão e pensar em coisas relaxantes. A mestra dava
as dicas: “Imaginem uma cachoeira linda e transparente, imaginem um verde paz e
um azul céu....” Eu abri o olho pra espiar a turma e todos pareciam estar bem
concentrados, só conseguia pensar: “Porra, será que tem alguém conseguindo
imaginar cachoeira? O máximo que eu consegui, foi focar no cara mais gato da
sala e me imaginar em uma cachoeira com ele. Não seria nada mal....
Último exercício: Todos tinham que abdicar de alguma coisa
material e jogar no lixo. Porque dessa vida não se leva nada, mas alma se
eleva. A oriental do meu lado jogou no lixo todas as roupas de marca do armário
e o fortão da minha frente jogou fora sua casa de búzios. E eu? Eu só pensava
em roubar o lixo do povo e sair correndo.
É... Eu era um desastre zen. E para completar o desastre,
saí da sala com as pernas doendo tanto e tremendo tanto, que derrubei a estátua
do Buda e tropecei na escadaria, caindo de bunda no chão. Tenho certeza que a
professora me achou uma alma perdida. De tanta vergonha que senti, saí
picadinha daquele local e me prometi nunca mais voltar.
Mas de uma coisa eu tive certeza: Estava mais viva e plena
do que nunca.