O relógio
marcava 15:45 da tarde e lá estava eu, sentadinha no salão, lendo mais uma
daquelas revistas fúteis que a gente lê enquanto faz as unhas. Até hoje eu
não sei como eu ainda insisto em ler Caras. Putz, eu já devia ter aprendido que
isso não é para mim! Não aguento a parte da revista que reúne algumas pseudo celebridades
globais com o título: “Eles são como nós”. Aí, você mira os olhos nas fotos e
vê as seguintes legendas: “Eles são como nós, bebem água mineral, eles são como
nós, vão às compras com os filhos. Eles são como nós, fazem xixi.” Tá, na parte
do xixi eu admito que me empolguei, mas eu juro que o resto é verdade. (Se
duvidar, vai na banca comprar caras, queridão.)
Saí do
salão, cheguei em casa e comecei a protagonizar aquele drama porque eu não
tinha roupa no armário. Depois de 1425637 tentativas, enfim achei “O” vestido.
Não sei me maquiar e quando eu tento, pareço o Chapeleiro maluco da Alice no
País das Maravilhas. Já até tentei ver vídeo no youtube para aprender, mas
infelizmente, não nasci para a coisa. A minha mãe/maquiadora oficial estava
viajando, então arrisquei qualquer coisa básica na face. Mesmo assim, a
felicidade tomava conta do meu ser. Seria um festão. E fazia uns bons meses que
eu não ia a festões.
Seria um daqueles
festões naquelas mansões dignas de capa de revista, em que as mulheres
ficam competindo para ver quem é a mais diva do local e o garçom passa com tanta coisa
chique na bandeja, que você, mesmo sem saber decifrar o que é, acaba comendo tudo.
A minha
felicidade é pela euforia que a festa representa. Todos aqueles drinks
coloridos, todas aquelas pessoas bonitas e bem vestidas, todo aquele cenário
encantador, todas as músicas que eu mais amo. Tudo lindo. Da produção do evento
à decoração da mesa de docinhos. A maioria das mulheres costuma dizer: “Eu só
vim para dançar”. Eu não. Eu vou para dançar, para beber e para comer todos os
salgadinhos e docinhos que se encontrarem na mesa. E vou também para esperar. Sim, para esperar se
aquele fulano X da vida vai aparecer lá. Não é “um” X, é “O” X. Será que o X
está lá? Será que está chegando? A ansiedade me consome e o meu pescoço quase
quebra a procura do maldito. O meu coração, metade de menina de 15 anos e metade de mulher de 30, fica
apreensivo.
O melhor de
mim é que como eu não sei demonstrar interesse, o “X” jamais sonharia que é o
meu “X”. Enfim, o “X” estava lá. E é aqui que a minha bipolaridade começa a
atacar. Porque essa vida de mulher é simplesmente foda. Vou fazer uma confissão
séria agora: Não estou narrando uma experiência pessoal, como todo mundo aqui
está pensando que eu estou fazendo. Na realidade esse festão não foi nesse
final de semana e nem nesse ano de 2012. Admito, eu inventei tudo. Meu objetivo aqui é apenas narrar uma
generalização que represente a minha vida de solteira e a de todas (ou quase
todas) as mulheres.
Acompanha
comigo: você fica com um X da vida. Mas e aí, o que acontece? Você descobre que
o “X”, na verdade, não era o cara certo para você. As suas amigas te dizem:
“bola pra frente, amiga”.
"Sacode o cabelo, Beyonce branca da próxima estação" - você pensa consigo mesma. Confiante, você se arruma, coloca o
seu melhor vestido e cisma que precisa conhecer o Y, porque chegou a hora do X morar
no passado. Porque a vida gira. Ok. Você conhece o Y, quase chega a gostar dele.
Quase. Mas depois, descobre que ele também não era o cara certo pra você. (Sorte
que você ainda não tinha gostado dele). E aí, pouco depois, eis que você conhece o Z.
No momento em que você conhece o Z, você já tem certeza absoluta de que não
existem condições físicas, mentais e psíquicas para se deixar levar como fazia
com seus 16 anos de idade. Você fica com o Z, mas já não tem a mesma facilidade
em se apaixonar, até porque, você sabe que aquilo tende a não ir muito para
frente. E não dá outra: O Z também não era o cara certo.
É isso. Cansei. Cansei
de esperar vir a “próxima pessoa”. Tenho medo da próxima pessoa. Nada é bem do jeito que eu queria. E
quando é eu não quero. Ou me
aparece um bonitão disputado que só pensa em “curtir a vida” com os amigos, ou
me aparece um nerd de 12 graus de miopia que é perdidamente apaixonado por mim
e me quer mais do que a Princesa Kate. E quando aparece alguém no meio termo,
também não era bem do jeito que eu queria que fosse e acaba dando errado por que alguma razão.
Imagina um
bonitão. Agora imagina esse bonitão com o dobro de beleza que você tinha imaginado
antes. Imaginou? Agora esquece tudo, porque sua capacidade de imaginar não
acompanha a beleza real do sujeito. Esse é o famoso bonitão da balada que quer
te “pegar”. E o bonitão da balada eu não quero. Não quero mesmo. Porque seu
cérebro de ostra na UTI ainda não evoluiu o suficiente a ponto de aprender o
que significa valorizar alguém. Ele tá em outra “vibe” e eu não o acompanho. Ao
mesmo tempo, existe aquele nerd de 12 graus de miopia que se declarou pra mim.
Ele fez carta de amor e tudo! Se pudesse teria feito uma serenata também. Mas
não adianta. Quando eu não quero, eu não quero.
E assim a
vida prossegue. E assim a vida prosseguiu. 12 graus de miopia, bonitão da
balada, gordinho do curso e bonitão da balada de novo. Eu só posso ter grudado
chiclete na cruz, Santíssimo! Às vezes me dá uma vontade súbita de exterminar todos os
bonitões das baladas e todos os nerds freaks que se apaixonam perdidamente por
mim em menos de 48 horas de convivência. Então, eu me recolho à minha
bipolaridade eventual. Felicidade e euforia na festa e vazio e solidão em casa. Que ciclo.
A minha
sorte – e a de todas as solteiras - é que Deus não demora, ele capricha. Com
tantas bizarrices já vivenciadas, espero que o Senhor esteja me reservando algo
de muito especial. Um dia, ainda iremos conhecer alguém que nos fará ficar
feliz em compreender porque não demos certo com o X, Y e o Z.
Um dia.