“No strings attached
is the new black”. Amizade colorida nunca foi
pauta de tanto filme quanto nos ultimos três anos. Vamos colocar Mila Kunis
para romancear com Timberlake. E por que não Natalie Portman com Kutcher? Não
quero analisar os filmes em si, apenas falar da nova tendência que grita aos
nossos olhos: Amizade colorida entre Homem e Mulher. Será que funciona?
Em primeiro lugar, eu tenho uma teoria: Amizade de
homem e mulher só funciona pra valer se ambas as partes não sentirem atração
física uma pela outra. Eu confesso: Meus melhores amigos são os mais feios do
universo. E é por isso que estamos aí há uns 15 anos na estrada. (Nessa
parte, minha mãe vai dizer: “Minha filha, quando você morrer, vai precisar de
um caixão para o corpo e outro para sua língua. Você é terrível.” - Piadinha
mórbida, mas sempre em voga na família).
Acho impraticável ter como amigo um Ashton Kutcher da
vida e dizer que é só amizade e NADA mais. Como nada mais? Os amigos de verdade
não podem ser atraentes um para o outro. Senão a amizade evolui. E é aqui que
quero chegar.
Os filmes que eu citei, para quem não conhece, trazem
à tona em seus enredos, personagens que se envolvem inicialmente apenas pelo
físico. Sem sentimentos, sem vontade de progredir para uma relação mais séria,
sem romantismo, sem paixão. Sem nada. No máximo, uma certa “amizade”. Em um
mundo que corre feroz numa velocidade de 3.500 km por hora, as pessoas não têm
tempo mais para desenvolver nada muito profundo. Nos relacionamentos atuais, só
dá tempo de conhecer a marca do relógio, da cueca, o tipo de sutian que usa, se
a bunda é mole, se o peito é caído e se tem pegada. É isso. Fazer bonito. Ter
performace "digna". O que você desenvolve no fim das contas, é o
relatório final: “Puts, ele manda bem. Mas o outro mandava melhor, viu?”
Sinceramente, acho isso uma pobreza. Mas não sou
hipócrita, longe de mim. Pelo contrário, eu acho que a superficialidade é muito
necessária à sobrevivência da espécie. Ninguém merece ser profundo e intenso 24
horas por dia. Pessoas assim se tornam altamente cansativas. Clarice Lispector
com certeza teve surtos existenciais de depressões brabíssimas. E não venha me
dizer o contrário! Ceder a alguns impulsos sem culpa é super hiper mega
necessário para a saúde mental de um indivíduo. O problema é quando a
superficialidade vira a regra e não a exceção.
Acho que essas histórias de Holywood tem revelado uma
tendência meio mundial dos jovens de se relacionar. Tá tudo muito moderninho,
muito legalizado, muito à vontade. Peraí. Tá mesmo?
Claro que no final dos filmes, o Kutcher se apaixona pela Natalie e o Justin pela Mila. Deliciosamente previsível, como a cinderela que ganhou sapatinho de cristal e carruagem. Mas e na vida real, quando o seu Kutcher não se apaixona por você? Você sustenta o lance? Ou vai virar abóbora da meia noite?
Aposto que a média das mulheres chora e volta para
casa transformada na própria abóbora da meia noite. E aí, filhote, não vai ter
frase de Caio Fernando de Abreu que te salve da fossa.
Esses filmes, mais uma vez, são um tiro no coração de
qualquer mulher mais sensível. Transmitem uma ideia de que o liberalismo é a
melhor opção, impulsiona as mulheres a viver “tudo que há para viver”, mas, ao
mesmo tempo, deixa aquela pontinha cruel de esperança no melhor estilo: “Ah...
Mas isso vai virar amor...Vai ser lindo como foi com a Natalie Portman. No
começo, só físico. Depois, a amizade com benefícios vai evoluir para um
romance. Tenho certeza. Aposto todas as minhas fichas nesse final feliz.”
Para dar certo nesse tipo de relacionamento, a mulher
tem que ter um perfil mais “eu sei aproveitar o presente e não tô nem aí para o
futuro da relação, eu não sinto culpa nenhuma por ceder ao prazer do momento e
não me envolvo fácil”.
Além disso, a mulher tem que ser do tipo que não
alimenta expectativas e cobrancas em um relacionamento. Obviamente, esse estilo
é raríssimo. O mais comum é que a mulher fique ansiosa, surte e envie 359
torpedos pro cara, exigindo doses contínuas de atenção por parte dele. Se você não tem o perfil, gata, nem invente.
Você não vai ser a próxima Mila Kunis. Para de
idealizar. Se quer ceder, beleza, ceda. Mas tenha em mente o risco de a relação
nunca ficar mais séria e esteja de acordo com esse risco. Alimentar falsas
expectativas é se enganar com consciência plena de estar se enganando. Se quer dar uma chance à amizade colorida, experimente ter como aliados a leveza e a espontaneidade.
Me impressiona a capacidade das produtoras de filmes
em ferrar com as mulheres desde mil novecentos e sempre. Vamos manter o foco, a
capacidade de analisar a situação como ela se apresenta e compreender
nossas características individuais e limites. Auto-conhecimento é fundamental. Se te fará bem, se permita com
entusiasmo. Caso contrário, nem cogite.
Praticar a honestidade e o bom senso com nós mesmos.
Essa é a única regra. Sempre.